terça-feira, 13 de setembro de 2011

Relação Texto-Representação

Logo no primeiro capítulo, Anne Ubersfeld nos diz que:
          (...) arte de representação que é de um dia e nunca a mesma no dia seguinte; quando muito, arte feita para uma única representação, resultado único, como queria Antonin Artaud em O Teatro e seu Duplo. Arte do hoje, representação do amanhã que se pretende a mesma de ontem, interpretada por homens que mudaram diante de novos espectadores  (UBERSFELD, 2005, p. 01).

         Desde que comecei a faculdade de Teatro - estimulada por nossos professores - já pensei inúmeras vezes sobre esta efemeridade do teatro. E acho que é exatamente isso o que faz esta arte tão especial.

                   Teatro é arte viva 

          Diferente de um filme, que você pode assistir no cinema ou em casa, quantas vezes quiser, e será exatamente igual; diferente de uma canção, que você também poderá ouvir quando desejar e ela será exatamente a mesma; diferente de uma escultura ou pintura, para as quais se aplicam a mesma lógica, o teatro só se concretiza com o espectador presente - se a peça for gravada, já não é teatro, é uma gravação da peça e a sensação em nada se parece com a de presenciar a performance -, ele só existe no momento em que é feito e jamais, ainda que se tenha uma partitura minuciosa e mesmo que se tente repeti-lo, centenas de vezes, jamais será igual. E é isso que o torna único e tão belo, tão maravilhosamente belo.
          Também já havia refletido sobre esta questão de quanto nós, atores, mudamos, de um espetáculo a outro. Nosso estado de humor certamente interfere em nossa atuação e também a postura do público - e me atreveria a sugerir que até a sua energia - é preponderante. Influencia muito se a plateia é receptiva e reage ao que está assistindo ou, se por outro lado, é apática e "neutra". Aliás, a "conexão" espetáculo-plateia e as suas interferências no resultado da apresentação me parecem inquestionáveis e um excelente objeto de estudos.
          Outro fator que não deve ser ignorado é o fato de estarmos em constante metamorfose. As pessoas mudam, diariamente, segundo suas ações, escolhas, reflexões, e também segundo inúmeros fatores que estão fora de seu alcance, acontecimentos que independem de sua vontade ou livre arbítrio. E estas mudanças, ainda que imperceptíveis, também interferem em sua atuação teatral.


          Na sequência, Ubersfeld enfatiza a "imortalidade" do texto dramatúrgico frente à efemeridade de uma apresentação teatral:

          (...) a encenação de dez anosa trás, por mais qualidades que tenha apresentado, está hoje tão morta quanto o cavalo de Rolando. Mas o texto, esse é, pelo menos teoricamente, intangível, fixado para sempre. (UBERSFELD, 2005, p. 01)

        Como aprendiz de dramaturga - na atualidade, estou trabalhando na montagem da quarta peça teatral escrita por mim, Moeda de quatro caras, pela Cia Pelotense de Repertório; antes montei também Depois do Happy Ending, Constância e Hortência e Gilda -, respeitoi imensamente os autores teatrais e defendo que seus textos não sejam "mutilados". Sou contra alguns diretores que optam por fazer "colagens" de trechos ou frases soltas de várias peças ou simplesmente fazem inúmeras alterações no texto, modificando completamente sua ideia original. Defendo a liberdade de criação e de expressão, mas também defendo os direitos dos autores. Nestes casos, se não é a ideia proposta pelo texto dramatúrgico o que estão procurando, por que não fazer algo totalmente novo? Às vezes tenho a impressão que estes diretores estão interessados em promover-se às custas de nomes de dramaturgos consagrados, que dão "peso" e respaldo à montagem, embora na verdade não estejam interessados no conteúdo do texto, propriamente, ou não têm capacidade para criar algo seu.
          Por outro lado, apesar de meu respeito àqueles que escreve para teatro, creio que o texto só "toma vida" no momento em que é encenado. Fora isso, é apenas mais um texto literário, palavras no papel, mas não é uma peça. Assim, questiono a ideia da "duração" do texto sobre o espetáculo. Acho que é no momento em que ele está sendo apresentado é que está mais vivo do que nunca. E ainda que a apresentação termine, este momento de "vida absoluta" é que fica "fixado para sempre". A impressão na memória se perpetua mais que a impressão no papel.

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